quarta-feira, 17 de julho de 2019

Equilíbrio: como lidar com a tensão dos opostos?

Você já parou pra pensar o quanto a nossa mente está acostumada a polarizar as coisas? Fomos criados em cima de conceitos maniqueístas como bom e mal, certo ou errado, bonito ou feio, milagre ou pecado, altruísmo ou egoísmo, (eu podia continuar essa lista infinitamente) e esquecemos que entre esses pólos existe um espectro gigantesco que condiz, na verdade, muito mais com a realidade das coisas como elas são.


Uma pessoa nunca é totalmente boa nem totalmente má. Isso simplesmente não existe. Até Hittler amava alguém. Até Jesus e Buda magoaram alguém. Uma situação ou ação não pode ser totalmente certa ou errada, isso é impossível na realidade porque o certo ou errado estão atrelados ao olhar de alguém e esse olhar depende do contexto em que esse alguem está inserido.

Com certeza aqui no ocidente seria muito errado um homem obrigar uma mulher a sair na rua com seu cabelo coberto por um pano, porém no contexto muçulmano o uso da burca é considerado correto pois faz parte da religião e da cultura desse povo. Há alguns nem tantos anos atrás meninas casavam com 15 anos, e isso era o certo, hoje isso seria considerado um absurdo. Nos países onde houveram guerras jovens meninos eram obrigados a abandonar suas vidas e seus estudos para ir para um campo de batalha matar uns aos outros...isso é certo? Para alguns pontos de vista sim.

Não vou aprofundar aqui nessas questões apenas quero trazer a reflexão de que o certo e o errado, o bem e o mal, mudam dependendo do contexto. O que é certo pra você? O que te faz bem? O que te faz mal? Isso é que é importante ser mantido e defendido, independente do contexto social. Porém as pessoas parecem esquecer disso procurando regras e respostas do lado de fora, na vida do outro, nas opiniões do outro, nas religiões e dogmas...e você? O que você realmente pensa ou sente? Qual é o medo de assumirmos a nossa verdade? A responsabilidade de escolher de acordo com a nossa própria moral, e não a de fora, nos assuta. E alguns vivem tão submersos em regras e padrões externos que não sabem nem mesmo o que realmente pensam ou acreditam.

"Somos nossas escolhas"

Além disso conforme falamos antes, existem milhões de pontinhos entre um pólo e outro e estar polarizado atrapalha e muito as nossas vidas, tenho percebido que a polarização é algo mais comum do que se imagina, e muito adoecedor. Vejo casos de pessoas que sempre foram passivas em suas vidas, se sentindo invadidas pelo outro e sem conseguir colocar limites. De repente essa mesma pessoa começa a ser reativa, brigar e "repelir" todos a sua volta. Pessoas que eram muito frias em suas relações e ao se abrir para as emoções se entregam para uma paixão avassaladora. Pessoas que são muito religiosas e se decepcionam de alguma forma com sua religião e se desconectam totalmente do seu lado espiritual, do sentido de transcendente.

Pegando um exemplo social, vivemos em uma sociedade patriarcal que sempre reprimiu a energia feminina primordial, e agora vemos o ínicio de um resgate maravilhoso do sagrado feminino, porém muitos diante desse resgate começam a "demonizar" o mascuino primordial como se ele também não fosse uma energia sagrada e tão importante quanto a energia feminina. Até porque nenhum ser no universo existe sem as duas energias dentro de si. Em resumo estamos sempre oscilando de um pólo para o outro, tentando muitas vezes compensar "o tempo perdido" de quando estávamos no outro oposto, e isso está longe de ser saudável em qualquer que seja o aspecto. Desequilíbrio é sempre adoecedor. 


Existe um enorme espaço entre repelir e aceitar tudo: Você pode colocar os seus limites para outro de forma clara e continuar dando e recebendo afeto.
Existe um enorme espaço entre "vestir uma armadura" e "ser uma esponja": Você pode manter a sua individualidade dentro de um relacionamento sem ser egoísta. Você pode trocar experiências com o outro sem precisar se tornar o outro.
Existe um enorme espaço entre a descrença e a fé cega: Você pode ter fé sem ficar paralisado esperando que um deus realize seus sonhos e culpando ele por não realizar. Você pode saber que você é o responsável pela sua vida e pelas suas escolhas, mas acreditar que o universo é vivo, que a natureza é viva e existe um fluxo de sabedoria divina maior do que nos que nos auxilia em nossos processos.

Porque estamos tão desequilibrados oscilando nessa tensão entre pontos distantes ao invés de olhar para todo o caminho que existe entre eles? Porque buscamos tanto do lado de fora as respostas que só nós mesmos podemos nos dar? Crescemos assim nos distanciando de nós mesmos e sendo bombardeados por essas regras maniqueísta e esquecemos que dentro de nós é onde mora o equilíbrio. Um equilíbrio que é seu e diferente de todos os outros. Não tem regra, não tem padrão.




O equilíbrio não é um ponto exato no meio do caminho entre essas coisas que falamos, mas sim uma forma fluída de viver se relacionando de forma consciente com as polaridades que existem em nós. Esse "ponto de equilíbrio" oscila e essa fluidez é própria de cada um, única, e não é olhando pro outro ou procurando uma regrinha que você vai descobrir, é olhando pra dentro de si. É compreendendo como o seu ser fluí. O que é natural pra você? Segundo Jung nós nos esforçamos demais para adoecer e nos desequilibrar, porque o nosso corpo, a nossa psique, tende ao nosso ponto natural de equilibrio. Se pararmos pra pensar nisso, veremos que passamos a vida nos esforçando para corresponder a padrões e exigências que estão do lado de fora...pare de se esforçar, olhe pra dentro de você através de uma meditação, de uma terapia, ou simplesmente de momentos de pausa, silêncio e respiração consciente. Sinta: quem é você de verdade? Qual o seu ritmo natural interno? Como você deseja fluir no mundo?