terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

"Onde há luz, há sombra"

Essa frase foi escrita por Carl Gustav Jung, sobre o conceito de Sombra, um dos arquétipos da psique humana segundo a Teoria Jungiana. Você já ouviu falar do conceito de Sombra na psicologia analítica?


A Sombra emerge no processo de autoconhecimento, no momento em que o ego começa a se diferenciar da persona (as máscaras sociais), isto é da imagem ideal que tem de si. Sem tanta idealização começamos a fazer contato com um lado mais oculto, aspectos mais inconscientes de nós mesmos, que muitas vezes são os que mais negamos.

A Sombra é um aspecto (ou um conjunto de aspectos) geralmente desconhecido do eu, que negamos em nós e tendemos a projetar nos outros. São aspectos inconscientes, virtudes e defeitos, que por determinados motivos (complexos, traumas, etc.) não conseguimos ver conscientemente em nós.

O outro funciona como um espelho. Só percebemos e nos incomodamos demais com o que de alguma forma temos em nós. O incomodo na verdade é consigo mesmo. Projetamos de maneira inconsciente como uma oportunidade para enxergarmos, pois é mais fácil a princípio enxergar no outro do que em si.

“As coisas que mais repugnamos em nós e que por isso reprimimos, nós a projetamos nos outros, seja ele o vizinho, o nosso inimigo político ou uma figura símbolo como o demônio. E assim permanecemos inconscientes de que as abrigamos dentro de nós.” Nise da Silveira

 “Aquilo com que você não consegue coexistir não o deixará existir.” Bill Spinoza


A sombra é o oposto da consciência, mas também é o que falta a cada personalidade. Falta, pois costumamos negar e reprimir o que nos incomoda em nós, e desta forma não nos vemos por completo. Jung dizia que onde há luz, há sombra, e inclusive, quanto maior a luz, maior a sombra.

Por isso podemos observar num processo de autoconhecimento, onde começamos a “iluminar”, isto é, perceber aspectos desconhecidos de nós mesmos, que surgem em nós qualidades que consideramos positivas e negativas. Esses aspectos surgem simultaneamente e parecem crescer durante o processo. Tanto os considerados positivos quanto os considerados negativos.

A verdade é que essas características não estão crescendo ou aumentando em nós, e nem mesmo estão surgindo, pois sempre estiveram ali. Estamos é percebendo de forma cada vez mais consciente cada uma delas. E o que consideramos positivo ou negativo, muitas vezes vem de uma visão dualista da cultura na qual estamos inseridos.

Se estamos ampliando o olhar sobre o nosso interior, não há como selecionar para onde vamos olhar. Se estamos realmente ampliando este olhar, olharemos para o que nos desagrada também, e esse é o maior desafio e o que traz o maior amadurecimento.

Qualquer característica ou aspecto interno nosso pode fazer bem ou fazer mal, tanto para nós mesmos quanto para outros. Depende do momento e da forma como nós lidamos com aquela característica. Porém, para podermos lidar com a característica precisamos antes ter consciência de que ela existe.

Uma certa escuridão é necessária para ver as estrelas.

Negar a sombra é fornecer a ela mais poder. Quando negamos esses aspectos eles se tornam mais inconscientes e podem vir à tona de maneira incontrolável em momentos de fortes impulsos emocionais. Muitas vezes podemos ter ações as quais não controlamos. Nesses momentos é a sombra atuando de forma autônoma, e isso pode causar mal a nós mesmos e a outros.

Se conhecemos mais profundamente nossos aspectos, e principalmente, aceitamos todos eles, podemos aprender a lidar com aquele aspecto mais difícil, que nos desagrada ou já nos fez mal de alguma forma. Reprimir ou ignorar não fará com que ele desapareça, muito pelo contrário, aquele aspecto contém uma energia que quanto mais contida mais força ganha, como uma mola pressionada em uma caixa, ou um animal selvagem preso durante muito tempo numa jaula.

Precisamos esquecer por um momento a visão dualista da sociedade, que define opostos como certo e errado, bom ou mau; e compreender que o que importa é descobrirmos o que realmente nos faz sentir bem. Lembrando que o que nos faz bem pode não fazer bem ao outro, e o que nos faz bem hoje pode não nos fazer bem amanhã.

Somos perfeitos da forma que somos e todas as características presentes em nós podem ser direcionadas de acordo com a nossa vontade, se estivermos conscientes dela.