terça-feira, 28 de maio de 2019

A Sombra do Amor

"Onde há desejo de poder não há amor.
E onde há amor não há desejo de poder.
Um é a sombra do outro." (Carl Gustav Jung)


Uma das grandes verdades escritas por Jung me faz refletir profundamente sobre os relacionamentos humanos. O poder é Yang. O amor é Yin. Quando falo sobre Yin e Yang me refiro as energias primordias que existem dentro de nós e em tudo que há no universo, segundo a tradição chinesa. Yang é o masculino arquetípico primordial e Yin o feminino arquetípico primordial. As duas energias juntas e em movimento formam tudo que existe.

A questão é: O desejo de poder vem da energia masculina primordial e numa sociedade totalmente patriarcal que exalta o masculino dentro de todos os seres, como podemos não ter desejo de poder? E se todos temos, onde está o amor?

Nesse momento difícil da historia do Brasil, falamos do poder como algo sombrio, mas talvez quem esteja na sombra seja na verdade o amor, pois o desejo de poder está bem consciente, atropelando tudo e todos. Será que somos capazes de amar mesmo aqueles que são diferentes de nós? Será que ao menos sabemos o que é amor?


Com o amor na sombra podemos facilmente esquecer como é senti-lo, o que ele de fato significa, e começar a confundi-lo com posse, com paixão e obsessão. Com o amor na sombra podemos esquecer de doar, ou às vezes para aqueles que o doar é natural começam a receber tão pouco em troca que a balança quebra e se esgotam. A sensação de injustiça toma conta e a raiva prevalesce.
Com o amor na sombra até mesmo aqueles seres que nasceram pra amar e doar se esgotam, sua luz se apaga e eles se endurecem.

Com o amor na sombra confundimos entrega com "ser trouxa", limites com "joguinhos de poder", diálogo com competição e justiça com ódio. Não está claro ainda que dessa forma não chegaremos a lugar nenhum? Apenas nos afundaremos mais no que há de mais negro e denso na alma humana...

Jung também disse: " Quanto maior a luz maior a sombra" E não há no universo ser mais iluminado e mais sombrio do que o homem. Somos nossos próprios anjos e nossos próprios demônios. Cabe a nós escolher como equilibrar essa balança. Enquanto a nossa ânsia for pelo poder sobre o outro, seja quem for você, seja quem for esse outro, nada vai mudar.


Não se resolve a sua submissão submentendo o outro. Se resolve a sua submissão com amor. Como assim? Se amando o suficiente para nunca mais se submeter. Amando o outro o suficiente para ajudá-lo a se transformar, caso ele peça e deseje, ou para colocar um limite claro e tirá-lo da sua vida porque não podemos ajudar quem não quer ser ajudado.
Colocar limites é também um ato de amor, com você mesmo e com o outro. Manter ambos presos em uma relação destrutiva, seja pelo motivo que for, é jogo de poder.

Socialmente estamos todos presos em relações destrutivas, tentando provar uns para os outros quem está certo ou errado, tentando correr mais rápido pra ver quem vai "sentar no trono" e ditar as regras dessa vez.

E enquanto não tirarmos o amor da sombra continuaremos exatamente assim, oscilando entre o conflito de opostos, de um pólo ao outro, sempre unilaterais e nunca compreendendo a complementariedade entre eles...Não importa qual o pólo que estará "ganhando" no próximo século, o que importa é que nunca seremos inteiros.
Precisamos tirar o amor da sombra...
Começa de dentro de você.