quarta-feira, 13 de março de 2019

E se não houver nada de errado com você?

Nós sempre acreditamos que existe algo de errado com a gente. Muitas vezes é isso que nos leva a procurar uma terapia, um psicólogo, ou até mesmo um psiquiatra, chegamos no consultório e já começamos a desabafar tudo que sentimos que está errado conosco. Nos culpamos, nos julgamos, nos pressionamos para corresponder à padrões, na maioria das vezes externos, e toda essa angústia crescente nos faz querer desesperadamente nos "consertar", como se fossemos uma máquina com um "parafuso a menos". Porém não somos máquinas, somos seres únicos, complexos, vivos, em eterno movimento e não existe nenhuma receita, nenhuma técnica e na verdade nenhum remédio que vá nos consertar magicamente, funcionando exatamente igual para todos. E aí eu te pergunto: E se não houver nada de errado com você?



Susan Henkels, uma psicoterapeuta americana com mais de 45 anos de trabalho clínico, escreveu um livro com esse título e eu assisti a palestra dela no TED Talks o que me inspirou para escrever esse texto, pois é algo que eu sempre pensei. (link para o vídeo da palestra no final do texto, porém infelizmente não tem legenda em português.) Susan traz esse questionamento e diz que depois de anos de experiência clínica ela mesma começou a questionar porque as pessoas estão sempre focando no que está errado com elas e sempre querendo se consertar, muitas vezes as pessoas baseiam suas vidas, suas ações e pensamentos em torno de uma lista de coisas que acreditam estar erradas com elas mesmas. Principalmente atualmente, que muitos diagnósticos são dados, às vezes de formas precicipitadas, as pessoas se apegam ao diagnóstico como se fosse definir seu modo de ser e justificam suas ações e pensamentos.


Carl Gustav Jung sempre teve um olhar diferente sobre as patologias, ele dizia que tudo que acontece com a gente faz parte do nosso processo de individuação, isto é, nosso processo de crescimento e amadurecimento psíquico e espiritual. Cada ser é um ser único, e cada ser vai passar pelas mesmas situações de forma totalmente diferente, absorvendo e lidando com aquilo cada um à sua maneira. E afinal porque um traço da sua personalidade deve ser visto como errado ou doente? Só porque ele é diferente da maioria? É claro que precisamos entender o que nos atrapalha e olhar para nossas limitações, para nossa sombra, mas precisamos olhar com acolhimento. E integrando esse aspecto à nossa totalidade, saberemos utilizar ele da melhor forma possível, muitas vezes o transformando numa ferramenta que pode nos auxiliar, ao invés de ser um obstáculo.

Susan conta em sua palestra sobre um roteirista de sucesso que conheceu e que questionou o seu livro. Ele disse pra ela; "É claro que tem algo de errado comigo, eu fui diagnosticado com Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD) quando era ainda criança." E Susan questionou: "E o que há de errado com isso?" Ele respondeu: "Eu sempre discordei de todo mundo, o que me fazia não ter muitos amigos e me tornei muito introspectivo." - "E o que há de errado em ser muito introspectivo?" - Ela questiona novamente. E por aí vai...Todas as justificativas que o homem traz, são comportamentos que saiem do padrão considerado "certo" pela sociedade, porém no final de todos os questionamentos de Susan (que são sempre perguntando "E qual o problema disso?") ele chega à conclusão que o seu "transtorno" proporcionou que ele fosse um roteirista tão bem sucedido. O fato dele ter se tornado uma pessoa mais introspectiva e ser sempre muito questionador e imaginativo, fez com que ele sempre criasse histórias incríveis e o direcionou para ser original  e bem sucedido nessa profissão.


O que estamos falando aqui é sobre aceitação de si mesmo. Não é sobre negar nossas dificuldades, mas sim compreender que todos tem alguma dificuldade e ninguém é melhor ou pior do que ninguém. Como já falei anteriormente somos seres únicos e não tem como comparar algo único. Cada um tem características maravilhosas e profundas dificuldades, o que precisamos fazer é olhar para nós mesmos e nos aceitar e nos amar. Não existe nada de errado em ser quem você é! E quanto mais você se aceita e se ama, mais você aprende a lidar com o que parece "errado" em si mesmo, entende que como em qualquer totalidade, os pólos se complementam e aquilo que parece errado pode ser utilizado junto com todas as suas qualidades, aquilo, seja o que for, pode se transformar em algo que trabalhará a seu favor.


O primeiro passo para essa mudança de ponto de vista é nos desapegarmos de uma vez por todas dos padrões que nos são impostos de fora. Não temos que seguir o que os outros pensam, não temos que seguir o que a sociedade ou a religião diz que é certo ou errado, temos que seguir apenas a nossa natureza. No momento em que formos verdadeiros com nós mesmos, acolhendo cada pedacinho nosso, saberemos utilizar todas as nossas características para o nosso próprio bem estar e o bem estar comum. A natureza é sábia e tende ao equlíbrio. Jung também dizia que fazemos um esforço enorme para nos desequilibrar, as doenças, principalmente emocionais, demandam uma energia enorme da nossa mente e do nosso corpo, porque saímos do nosso natural. Achamos que é preciso nos esforçar para "ficar bem" e na verdade é o contrário, o esforço é pra "ficar mal". O nosso natural é o equilíbrio. E esse equilíbrio é próprio de cada um.


Então toda vez que surgirem os pensamentos limitantes, os auto boicotes que nos colocam pra baixo, e toda aquela "ladainha" que falamos para nós mesmos de certo ou errado, pare e questione: "E se não houver nada de errado comigo?" Se aceite. Se ame. E a partir daí você será capaz de transformar a sombra em luz.


Vídeo da palestra de Susan: https://www.youtube.com/watch?v=gF5XztmijhQ

Um comentário:

  1. Filosofia Pura! Não há nada de errado com quem Ama. Se Ama. Faz Arte, filosofia, música...Faz amor. Faz tudo com amor. Há sim, uma baita inveja de quem não consegue ser assim.

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