Quem brincou de Barbie sabe, o quanto de verdades surgiam naquelas brincadeiras, que muitas vezes viraram segredos entre amigas, pois os desejos inconscientes de nós crianças pulsavam através daquelas bonecas e daquele mundo mágico. Tudo era permitido ali naquele momento onde a imaginação podia se expressar livremente, sem a censura do mundo dos adultos.
Confesso que fui ver o filme desconfiada, primeiro porque sei que a indústria lucra horrores com a Barbie se "redimindo" com as mulheres e segundo porque eu amava a Barbie e o tanto quanto ela me ajudou a me expressar ela me atrapalhou com a minha auto estima, principalmente em relação ao meu corpo. Porém o filme me surpreendeu positivamente! De uma forma debochada e hilária o filme brinca falando a verdade, assim como nós fazíamos nas nossas brincadeiras de criança.
O filme mostra tantas questões absurdas que nós mulheres sofremos num sistema patriarcal de uma forma tão caricata, debochada e às vezes até óbvia, que nos leva a um "riso de nervoso" porque pensamos: "Caramba... e não é que é assim mesmo?" O óbvio precisa sim ser dito.
O ápice do filme pra mim é o discurso da personagem Glória, que sinceramente eu não acredito que exista alguma mulher consciente neste planeta que não tenha se identificado e compreendido exatamente o sentimento dela e da Barbie naquele momento. "Nunca ser o suficiente". O quanto eu escuto isso das mulheres na clínica!
E o discurso consciente liberta da "lavagem cerebral", da anestesia e cegueira de concordar com um sistema que tanto nos fez e nos faz mal! E faz isso com uns textos até óbvios. Mas novamente, o óbvio precisa ser dito, porque para quem está em estado de inconsciência e anestesia, o óbvio não é óbvio. A consciência liberta.
Realmente o filme tem muitos tons de rosa e de exagero, alguns homens podem se incomodar inclusive, com a forma caricata que o filme retrata a masculinidade tóxica e frágil. E eu entendo. E talvez seja mesmo o propósito. Talvez seja uma forma de mostrar, também para os homens, que o sistema patriarcal prejudica na verdade à todos, de alguma forma. Na minha opinião, esse tom caricato condiz perfeitamente com a ideia do "brincar de boneca", e foi uma forma inteligentíssima de ressaltar, para qualquer um entender, os problemas do patriarcado.
A maior surpresa positiva pra mim, foi o desfecho da "guerra entre as Barbies e Kens": - Ninguém tem que dominar a Barbieland. Vamos trabalhar juntos? - Isso é feminismo. Ao contrário do que muitos homens e mulheres pensam.
Independente do lucro que a Matel e todos os envolvidos estão tendo com isso, é melhor que lucrem trazendo temas de importante reflexão do que com filmes vazios. Greta Gerwig está de parabéns! Definitivamente vale à pena ver Barbie!
E procure ver com a mente aberta, principalmente se você for um homem.
Saia da caixa!
Que estejamos dispostos a encontrar outros mundos, e principalmente, a imaginar outras formas de nos organizar e nos relacionar como indivíduos em sociedade.
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