terça-feira, 20 de outubro de 2015

Persephone e o mergulho no inconsciente

Continuando no clima do Ciclo de Palestras no qual estou participando, onde falo sobre os arquétipos das deusas gregas no nosso inconsciente (para entender melhor, leia o post anterior), trago uma analise do mito da Persephone para pensarmos um pouco sobre amadurecimento e a questão da sombra Jungiana.

Um resumo do mito:


Persephone antes de se tornar esposa de Hades e rainha do submundo, era apenas uma menina ingenua e infantil que viva sobre os cuidados de uma mãe super protetora, a deusa Deméter.
Havia um desejo inconsciente de se libertar e amadurecer, porém sob os cuidados da mãezona, Persephone não era capaz nem de perceber esse desejo.

Hades, o deus que comanda o mundo avernal, (que é  o submundo, o mundo dos mortos, na mitologia grega), se apaixona por Persephone e como sabe que Deméter nunca iria permitir essa união ele decide agir por conta própria. Um dia Persephone estava colhendo flores no campo,quando de repente Hades aparece do chão e a sequestra para seu reino. Persephone acaba comendo uma Romã, sem saber que quem comer qualquer coisa no mundo avernal ficara condenado a nunca mais sair de la.

Após muitas ameaças de Deméter e negociações com Zeus, Hades chega a um acordo com todos e Persephone acaba passando metade do ano no mundo avernal com Hades, que se torna seu marido, e metade do ano com Deméter. Nesse processo Persephone se torna a rainha do submundo, e uma das deusas mais poderosas do Olimpo, pois ela é a unica deusa que pode ir e vir do mundo avernal.


O mundo avernal representa o inconsciente, onde todos os "fantasmas" habitam... Nele esta nosso passado, traumas e memorias esquecidas. Como amadurecer sem olhar pra isso?

Este mito fala sobre este processo de transformação e amadurecimento. Persephone era apenas uma menina e depois que entra em contato com o mundo avernal, com seu inconsciente e sua Sombra, ela amadurece, reconhece seu potencial, e se torna uma deusa poderosa.

Jung fala sobre o conceito de Sombra, definindo como um aspecto (ou um conjunto de aspectos) geralmente desconhecido do eu, que negamos em nós. São aspectos inconscientes, virtudes e defeitos, que por determinados motivos (complexos, traumas, etc.) não conseguimos ver conscientemente em nós.

Logo, olhar pra sombra é o momento onde encaramos tudo aquilo que não queremos ser, tudo aquilo que fazemos um esforço imenso para negar que temos presente em nós, mas no fundo sabemos que temos. Negamos porque consideramos "ruim", "errado", "feio" ou qualquer outro conceito que a sociedade nos impõe, ou negamos apenas por não saber lidar com aquilo. Porém a verdade é que só seremos nós mesmos quando nos olharmos por inteiro.


No mito, Persephone não queria olhar para seu poder, pra sua sexualidade, para o seu feminino, e através de Hades ela pode encarar sua sombra. Parece agressivo o rapto, porém isso é apenas uma alegoria muito presente nos mitos antigos. Hades representa aqui o próprio inconsciente de Persephone, seu Animus segundo a teoria Jungiana, e através da integração com ele, e do mergulho no seu inconsciente, ela descobre mais sobre ela mesma e se torna quem ela realmente é.

Este é outro ponto importante do mito, o relacionamento com o outro é um grande espelho e potencial transformador. Você pode amadurecer e se transformar sozinho, muitas vezes, mas é através do outro que você pode aprofundar nas suas questões mais inconscientes, que sozinho não somos capazes de ver. Se estivermos atentos as nossas relações, vamos perceber que elas sempre estão nos mostrando parte de nós. O externo apenas reflete o interno.



Persephone representa o arquétipo de uma mulher muito poderosa, muito intuitiva e ligada as questões do inconsciente. Depois que ela conhece e aprende a lidar com o seu inconsciente (o mundo avernal no mito) ela pode ir e vir com uma facilidade que nenhuma outra deusa tem. Isso representa a capacidade de olhar para a sombra, para o inconsciente e não se perder por la, não ficar "preso" em seu mundo interno, saber voltar para a "realidade" utilizando tudo o que aprendeu. Literalmente, trazer da sombra para a luz. Mulheres que tem esse arquétipo muito forte dentro de si, podem ser otimas terapeutas, tarologas, médiuns, ou tem grande atração por tudo que aborde o inconsciente e o mundo espiritual. Porém se elas tentam ignorar esse aspecto delas, elas podem permanecer imaturas ou perdidas em um mundo de fantasias internas.

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Um comentário:

  1. Lindo Post! Me lembra que o caminho mais difícil é !"o caminho de volta". De volta para a essência de nós mesmas. Recuperar o verdadeiro caráter as verdadeiras aptidões e desejos que foram massacrados ao longo da estrada. Onde passam todo o tempo dizendo quem somos e o que devemos fazer. Escutar -se. Preencher -se amar- se, romper as amarras e atirar-se ao Mar de infinitas possibilidades que a Sua Vida te oferece. Ela é SUA. Agarre -a!

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